Porto .-- 1919 - Cidade agraciada com a Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito a 26 de Abril de 1919 - João Canto e Castro -
PORTO
Após o Cerco do Porto e a morte de D. Pedro IV por um decreto redigido por Almeida Garrett e promulgado por Passos Manuel e D. Maria II de 14 de Janeiro de 1837, são alteradas as Armas do Porto:
“Presidente e vereadores da camara municipal da antiga, muito nobre, sempre leal e invicta cidade do Porto: Eu a rainha vos envio muito saudar, e por vós a todos os cidadãos da vossa heroica cidade, como aquelles que sobre todos muito amo.
Amigos: porquanto meu augusto pae, de saudosa memoria, com o precioso legado do seu coração deixou satisfeita a divida em que ambos estavamos a uma cidade que é o generoso berço d'esta monarchia, e que havendo dado o nome a Portugal, tantas vezes o tem rehabilitado à face do mundo, e restituido á primitiva gloria e explendor da sua origem; e não me sendo possível juntar nada áquelle grande testimunho com o que o libertador de Portugal, assim firmou a memoria do seu agradecimento, como a dos serviços da mais illustre das cidades portuguezas, a qual já pela admiração das gentes é justamente appellidada eterna; quis eu, todavia, como rainha de Portugal e como filha do Sr. D. Pedro IV, consignar pelo modo mais authentico e solemne, e dar toda a perpectuidade que em coisas humanas cabe, áquelle inapreciavel documento da gratidão real; e para este fim, houve por bem, em decreto d'esta data, determinar o seguinte:
1º - Para memoria de que a cidade do Porto bem mereceu da patria e do principe, serão as suas armas um escudo aquartellado, tendo no primeiro quartel as armas reaes de Portugal; no segundo as antigas armas da mesma cidade, e assim os contrarios; e sobretudo, por honra, e em recordação do legado precioso que de meu augusto pae recebeu, um escudete vermelho com um coração de oiro: coroa ducal; e por timbre um dragão negro das antigas armas dos senhores reis d'estes reinos; com a tenção em letras de oiro sobre fita azul - Invicta: - e em roda do escudo a insignia e collar da gran-cruz da antiga e muito nobre ordem da Torre e Espada, do valor, lealdade e merito.
2º - Aos títulos de antiga, muito nobre e leal se acrescentará o de Invicta: - e assim será designada: - A antiga, muito nobre, sempre leal e invicta cidade do Porto.
3º - O segundo filho ou filha dos senhores d'estes reinos tomará sempre o título de duque ou duqueza do Porto.
4º - Fica por este modo ampliado o disposto no decreto de 4 de Abril de 1833 e carta regia de 13 de Maio de 1813.
O que me pareceu participar-vos para vossa intelligencia e satisfação.
Escrito no Palácio das Necessidades, assinavam-no a Rainha e o 1º Ministro, Passos Manuel.
(…)”um escudo aquartellado, tendo no primeiro quartel as armas reaes de Portugal; as armas reais são compostas por sete castelos e cinco quinas, tendo cada uma cinco besantes no interior ;
(…) “no segundo as antigas armas da mesma cidade, e assim os contrarios…” As do Porto são a Virgem segurando o Menino, ladeados por duas torres.
No centro sobre o ponto onde se unem os quatro quartéis,(…) “e sobretudo, por honra, e em recordação do legado precioso que de meu augusto pae recebeu, um escudete vermelho com um coração de oiro…” um coração, que representa o precioso legado que D. Pedro IV (pai de D. Maria II) deixou à cidade como forma de reconhecimento pela coragem e lealdade dos seus habitantes - segundo a sua vontade, o seu coração encontra-se guardado numa urna de prata na Igreja da Lapa.
(…)”e em roda do escudo a insignia e collar da gran-cruz da antiga e muito nobre ordem da Torre e Espada, do valor, lealdade e merito.”
(…)e por timbre um dragão negro das antigas armas dos senhores reis d'estes reinos; com a tenção em letras de oiro sobre fita azul - Invicta:”
o Dragão negro do poder, (está de facto representado a verde), em cujo pescoço está uma fita com a palavra Invicta, título que D. Maria II atribuiu ao Porto,
“2º - Aos títulos de antiga, muito nobre e leal se acrescentará o de Invicta: - e assim será designada: - A antiga, muito nobre, sempre leal e invicta cidade do Porto.”
O Dragão
O dragão não é tradicionalmente utilizado nas armas reais portuguesas. O culto deste santo parece ter sido introduzido em Portugal pelos cruzados ingleses que auxiliaram D. Afonso Henriques na conquista de Lisboa, em 1147. Mas só mais tarde, segundo se crê no reinado de Afonso IV, se passou a usar a invocação de S. Jorge como grito de guerra contra os inimigos, em substituição do grito de "Santiago" utilizado pelos castelhanos. D. João I tinha especial devoção por S. Jorge tido como factor religioso da vitória em Aljubarrota onde também participaram ingleses. D. Nuno Álvares Pereira era um devoto deste mártir, tendo na sua bandeira a figura do santo. São Jorge é o padroeiro de Inglaterra.
Também o episódio dos “Doze de Inglaterra” referido por Camões nos Lusíadas, relata os cavaleiros portugueses que no tempo de D. João I partem do Porto para Inglaterra a pedido do Duque de Lancaster defender a honra de donzelas:
"Lá na leal Cidade, donde teve
Origem (como é fama) o nome eterno
De Portugal, armar madeiro leve
Manda o que tem o leme do governo.
Apercebem-se os doze, em tempo breve,
De armas, e roupas de uso mais moderno,
De elmos, cimeiras, letras, e primores,
Cavalos, e concertos de mil cores.”
"Advance our standards, set upon our foes,
Our ancient word of courage fair Saint George
Inspire us with the spleen of fiery dragons."
“Avançai estandartes nossos, lançai-vos sobre o inimigo /Que o nosso velho brado de coragem “Por S. Jorge” / Nos inspire com o alento dos dragões de fogo.”
William Shakespeare (1564 – 1616)- Richard III.," Act v. sc. 3.
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